Pode parecer piada interna de fábrica, mas ainda circula no setor florestal e siderúrgico um mito perigoso no segmento de produção de carvão vegetal: o de que fornos novos dispensam manutenção. O argumento é quase infantil — como se o novo bastasse por si só para garantir eficiência contínua, produtividade estável e durabilidade técnica.
O mais alarmante? Essa tese ainda é defendida por alguns engenheiros que operam como vendedores de soluções “perfeitas”, prometendo economia em OPEX e estabilidade operacional apenas com um bom projeto. Isso é um erro técnico, financeiro e moral.
Ao negligenciar a manutenção, criamos um efeito dominó silencioso: pequenas rachaduras se transformam em entradas de ar; entradas de ar viram descontrole térmico; e o descontrole leva a colapsos estruturais. O que antes parecia eficiência vira catástrofe em 12, 24 ou 36 meses.
A lógica do “manter” é simples: se o forno trabalha com ciclos de carbonização e resfriamento que duram entre 7 e 14 dias, então a cada ciclo completo, deve-se fazer um checklist operacional rigoroso, além dos cuidados diários operacionais. Assim como se faz em máquinas florestais — onde cada turno exige verificação de níveis, filtros, lubrificação e integridade de peças — o forno também precisa ser tratado como organismo técnico vivo.
Em operações industriais no Brasil, o custo anual de manutenção preventiva e corretiva gira entre 4% a 10% do valor de reposição dos ativos, segundo benchmarks de engenharia industrial, relatórios da ABRAMAN (Associação Brasileira de Manutenção) e cases de indústrias florestais e siderúrgicas.
Para sistemas térmicos como fornos de carvão vegetal, que envolvem: alta temperatura, expansão e contração térmica, pancadas mecânicas, partículas abrasivas (pó, cinzas), etc... a faixa ótima e segura de manutenção anual gira entre 6% e 10% do valor do forno.
No caso de um forno avaliado em R$ 1.000.000, isso representa algo entre R$ 60.000 e R$ 100.000 por ano. Um valor considerado baixo quando comparado à função vital que a manutenção exerce: garantir estabilidade térmica, prolongar a vida útil da estrutura, evitar falhas operacionais e manter a previsibilidade dos resultados.
Porém, a realidade é que muitos gestores tentam reduzir esse número para algo em torno de 4% — ou até eliminar completamente os protocolos de manutenção sob a justificativa de que o forno é novo, robusto ou "bem projetado". Essa lógica é perigosa. Ao evitar um custo anual de R$ 60 mil, abre-se caminho para perdas que ultrapassam R$ 300 mil em poucos anos, incluindo rachaduras, invasão de ar secundário, falhas no fluxo térmico e perda de rendimento do carvão. Em muitos casos, há necessidade de reCAPEX em menos de 36 meses.
Mais grave ainda: quando ocorre o colapso técnico, a culpa nunca recai sobre a omissão operacional. A narrativa oficial costuma transferir responsabilidade para o projeto, para o clima ou até para os operadores de campo. Mas quem está na linha de frente sabe — o que mata um forno não é o tempo, é a ausência de rotina técnica.
A manutenção industrial não é despesa: é uma blindagem contra o fracasso anunciado. Ignorá-la pode até gerar um OPEX temporariamente “bonito”, mas ele será tão frágil quanto o silêncio que esconde o desgaste do concreto e a corrosão dos metais.
Todo operador de colheitadeira ou caminhão florestal sabe: sem checklist, o equipamento morre cedo. Por que seria diferente com fornos?
Cada rodada de produção — seja a cada 7, 10 ou 12 dias — precisa ter um ritual técnico mínimo. E aqui vai o básico do checklist Ignis para fornos de carvão:
Inspeção visual da câmara de carbonização
Verificação de rachaduras nos painéis metálicos ou paredes de alvenaria
Avaliação da vedação das portas e válvulas
Limpeza dos dutos, chaminés e câmaras internas
Verificação do isolamento térmico (se aplicável)
Vedação de rachaduras e recuperação de áreas críticas como entradas de ar, juntas de portas e chaminé e partes danificadas por máquinas
Esse ritual reduz perda de rendimento, evita tragédias operacionais e permite prever falhas antes que virem emergências.
O forno, mesmo novo, se suja. Acumula fuligem. Recebe impactos mecânicos, impactos térmicos. Enfrenta ciclos de expansão e contração. E tudo isso não aparece no Excel nem nas planilhas bonitas de OPEX. Aparece no chão, no dia a dia. No carvão manchado. Na emissão de fumaça. No colapso da parede após o ano 2 de operação.
É comum vermos gestores e investidores empolgados com números iniciais: produção acima da média, consumo específico otimizado, baixo custo operacional. Mas o que ninguém conta é que esse “milagre” foi obtido sem plano de manutenção, sem estoque/reposição de peças e partes específicas do equipamento, sem mão de obra capacitada para manutençao ajustes de rotina.
Ao adotar a cultura da economia cega, o que se corta é o OPEX — a manutenção preventiva, as vistorias, os pequenos reparos. O resultado? Um gráfico que engana. Ele sobe bonito no primeiro ano. Estabiliza no segundo. E despenca no terceiro. Tudo se quebra junto: fluxo, layout, reputação e caixa.
Esse é o roteiro mais comum entre unidades que foram implantadas sem metodologia: manutenção zero, produtividade alta, desgaste oculto, colapso súbito.
E aí vem o golpe final: novo projeto, novo investimento, nova narrativa. Os investidores são chamados novamente à mesa com uma planilha “ajustada”. Diretores são convencidos a aprovar mais um CAPEX para resolver o que era apenas má gestão do OPEX. Ciclo vicioso. Contábil. Suicida.
Imagine um carro zero quilômetro. Você o coloca direto numa estrada de terra, cheia de buracos, lama, acelera, força o carro num rallie. Anda com os pneus descalibrados. Não troca óleo. Não limpa os filtros. Não alinha. Não lava. Depois de dois anos, os pneus estão carecas, a suspensão comprometida, o motor gritando. Mas o problema não era o carro. Era você.
É exatamente isso que fazemos com os fornos quando acreditamos que “novo” é sinônimo de “indestrutível”.
A lógica da manutenção é simples: todo equipamento novo começa a envelhecer no momento em que é ligado. A diferença entre durar 2 anos ou 15 está no cuidado. Na cultura de manutenção. Nos protocolos repetidos. Na liderança que exige checklist. E, acima de tudo, na recusa de adotar a mentira conveniente do “deixa rodar, tá novo”.
Na Ignis, já vimos dezenas de histórias com o mesmo roteiro: Fornos lindos na inauguração. Planilhas prometendo ROI técnico. E, no campo, a verdade nua e suja.
Sem limpeza. Sem revisão. Sem checklist. Sem número confiável.
Quando o colapso chega — e ele chega — os mesmos engenheiros fogem da responsabilidade.
Culpam o “projeto”, o “construtor”, o "material construtivo". Mas evitam dizer a verdade incômoda:
Não secaram a madeira como deviam — para economizar no capital imobilizado.
Não investiram corretamente na praça produtiva - Economizaram na base onde tudo se sustenta
Não treinaram operadores de máquina — para cortar custos com capacitação.
Não formaram carbonizadores de verdade — e deixaram o forno correr fora de controle.
E o principal: não executaram nenhuma rotina de manutenção preventiva ou corretiva.
Nunca é a operação. Nunca é a incompetência gerencial. Mas é exatamente ela — essa sequência encadeada de omissões táticas — que gera OPEX bonito no início, e destruição completa do CAPEX logo depois.
Fornos não são eternos. São organismos térmicos vivos. Respiram calor. Expulsam gás. Sofrem choques. São pressionados de fora e de dentro. Exigem mais do que projeto: pedem acompanhamento. Exigem gestão viva, presente, meticulosa.
Se você é engenheiro, técnico ou investidor e ainda acredita que basta instalar um bom forno para garantir retorno por uma década, você está atrasado. Está mentindo para si. E pode estar conduzindo sua operação para o abismo.
A falácia do “forno novo sem manutenção” precisa morrer. E rápido. Porque ela não é apenas técnica: ela mata valor, corrói reputação e destrói capital.
A nova siderurgia ecológica precisa de verdades brutas, protocolos claros e gestores com coragem de enfrentar a cultura da preguiça técnica, do oportunismo de baixo custo para mostrar números bonitos no primeiro ano.
Quem lidera? Quem mapeia? Quem exige checklist?
Se você não faz isso a cada rodada, a cada fornada, não está operando — está apostando. E nesse jogo, a casa sempre perde.
Se você quer rever o plano técnico da sua operação antes que os fornos desabem — ou se já está vendo os primeiros sinais de colapso e precisa de uma revisão séria —, fale com a Ignis Bioenergia.
WhatsApp: (73) 99980-1127